domingo, 11 de janeiro de 2009


O tempo rouba a minha vontade.
As lágrimas secam antes de cairem. O vazio tomba no meu coração.
As memórias ecoam sem sentido, o meu olhar cai na sua escuridão.

A noite chegava apressada, o mundo aclamava o seu nome. Na euforia da noite as estrelas choravam o pó da morte, que lentamente sufocava o seu corpo estendido na cama.
Eu estava presa à inutilidade, a uma vontade de agir sem poder. Raiva. Tristeza. Solidão. Impotência.
E os dias passavam... E as semanas decorriam... E tudo piorava.
O cheiro doentio da morte inundava o seu quarto. Nem a luz conseguia iluminar o seu destino. De noite ouvia os gemidos, a dor consumia a sua alma como lâminas ardentes, eu tapava os ouvidos, encolhia-me, enrolava-me nos lençóis, acreditando que naquele meu mundo a morte era apenas um mito e que todos os maus dias se desvanesceriam com a brisa do amanhecer. E lentamente a melodia aproximava-se e o meu corpo desligava-se abatendo-se num sonho ainda desconhecido.
O novo dia erguia-se deixando a cinza da noite pelo chão. Abri a porta e saí para a rua, os meus pés descalços caminharam sem cessar, o meu corpo tremia com o vento...Inspirei tentando acreditar, os meus pés descalços continuaram sem parar...


"Sinto os passos de Dor, essa cadência

Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!


E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!"
Florbela Espanca

sábado, 3 de janeiro de 2009

Mágico veneno

Fragância bipolar.
Um sim e um nao.Negas, afirmas, queres, usas.
Deixavas-me no chao aguardando um novo dia.
Eu toquei no fogo, as brasas queimaram-me os dedos.
O teu sopro percorreu a minha mente, a minha inocência, os teus lábios ousaram tocar os meus sem promessas.
Os teus braços envolveram-me num manto de dor, de solidão, de medo. Acorrentas-me ao passado, a um passado que nada mais é do que um erro, uma dança de corpos selvagens.
Na minha fraqueza, no dia em que a minha mente voava pela terra do nunca, e em que a minha consciência embriagada se encontrava, a tua boca procurou a minha (mas sem promessas). E eu apenas podia responder com o meu novelo de lã, que palpitava ansioso, ele queria-o, como estava frágil... e ainda assim consiguiu recusar o mel doce que escorria dos teus lábios.



Os teus olhos anseiam carne, a tua sede enlouquece-me.
Mas eu sou livre, livre do teu pecado, das tuas mãos.

**
"O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta..."

**

"E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!"