segunda-feira, 10 de novembro de 2008


"Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver."

Sophia de Mello Breyner Andresen







As luzes lá fora no mundo escondem-se atrás das cortinas que se fecham. As minhas memórias caiem num estado extasiado. Dúvidas inúteis, sentimentos degrados e remoídos nos gestos que passaram pela minha pele ruborisada. O calor da noite é abrasador, a lua cheia seduz o sol num ritmo doce de loucura.
O tempo passa. O toque passa. Tudo passa sem sentido.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008


O dia acaba. O cansaço dos meus ombros, pesados, fracos, desgastados, morrem pendurados pelos ossos cinzentos. Os movimentos do meu corpo chiam, rangem, dão pequenos sinais do final do dia.
Ouço o bater dos ponteiros, o relógio não pára. Respiro profundamente. As pálpebras caiem sem castigo, hoje tudo perdeu o rumo, todas as oportunidades dispersaram-se em mil pedaços pelos “se”s proferidos.
“Não me voltarei a erger. “
Olho pela janela, o mundo está cheio de brilho.
Desvio o olhar. Retiro-me desse lugar em passos lentos, os meus pés arrastam-se sem vontade. A minha figura insignificante tropeça pela solidão das palavras, pelo desgaste de ser o que não é, de tentar vencer o que não quer ganhar. A fraqueza apodera-se dos meus pensamentos, o meu corpo gela. A temperatura desce. O silencio irrompe os meus ouvidos. As palpitações explodem aceleradas, mas rapidamente perdem o ritmo. E lentamente vai batendo, e lentamente vai parando, devagar, agora apenas se ouvem espaçados gemidos de força. Desisto.
Desisto. consciente que naufraguei na solidão sem saber que ela existia.
O fim aproxima-se sem dor. As minhas pernas rendem-se à terra. Já me vejo ao longe. Cada vez mais distante, o branco preenche o horizonte. A visão torna-se turva. O mundo gira. Gira. Gira…. escuridão.




31-10-2008
Enquanto amanhece,
Enquanto escurece,
o brilho do mundo perde-se nos meus sonhos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A Criação



«No início Ele criou os céus e a terra.
A terra era sem forma, vazia, escura e coberta de água. O
Seu Espírito flutuava sobre a água.
E Ele disse: "Haja Luz", e ela apareceu.»


In A Criação


















Linguagem substancial,

Incêndio de palavras doces…

Claro-escuro

Do fogo cru e nu

Das noites eternas,

Repletas de labaredas

Que consomem sonhos,

Sonhos de nada!

Pequenas palavras

Da mais pura luz

Que nasce no horizonte.

Catarina Mavilde Monteiro