segunda-feira, 15 de junho de 2009

Don Juan (uma alma sem sabor)

Há um vazio cheio de uma poeira brilhante dentro de uma Alma.
Uma Alma que não ama, que ignora a paixão que cega o Homem. Isto resulta daqueles falsos arranques de emoção, quase com a forma de amor que ameaçam absorver o tempo, o ser, acabando num tédio sem sabor.
Lembram-me as velas no topo dos bolos de aniversário,
num momento brilham e libertam faíscas parecendo consumir tudo o que os rodeiam, mas no final apenas resta um pau negro e um cheiro a queimado. Talvez esta seja a minha Alma, indefesa, insípida, mole, que não preserva sentimentos apenas os consome deixando-se escoar na teia do destino.






domingo, 1 de fevereiro de 2009

Lugares que não esqueço





"Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh'alma
E nunca, nunca mais eu me entendi... "
Sophia de Mello Breyner

domingo, 11 de janeiro de 2009


O tempo rouba a minha vontade.
As lágrimas secam antes de cairem. O vazio tomba no meu coração.
As memórias ecoam sem sentido, o meu olhar cai na sua escuridão.

A noite chegava apressada, o mundo aclamava o seu nome. Na euforia da noite as estrelas choravam o pó da morte, que lentamente sufocava o seu corpo estendido na cama.
Eu estava presa à inutilidade, a uma vontade de agir sem poder. Raiva. Tristeza. Solidão. Impotência.
E os dias passavam... E as semanas decorriam... E tudo piorava.
O cheiro doentio da morte inundava o seu quarto. Nem a luz conseguia iluminar o seu destino. De noite ouvia os gemidos, a dor consumia a sua alma como lâminas ardentes, eu tapava os ouvidos, encolhia-me, enrolava-me nos lençóis, acreditando que naquele meu mundo a morte era apenas um mito e que todos os maus dias se desvanesceriam com a brisa do amanhecer. E lentamente a melodia aproximava-se e o meu corpo desligava-se abatendo-se num sonho ainda desconhecido.
O novo dia erguia-se deixando a cinza da noite pelo chão. Abri a porta e saí para a rua, os meus pés descalços caminharam sem cessar, o meu corpo tremia com o vento...Inspirei tentando acreditar, os meus pés descalços continuaram sem parar...


"Sinto os passos de Dor, essa cadência

Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!


E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!"
Florbela Espanca

sábado, 3 de janeiro de 2009

Mágico veneno

Fragância bipolar.
Um sim e um nao.Negas, afirmas, queres, usas.
Deixavas-me no chao aguardando um novo dia.
Eu toquei no fogo, as brasas queimaram-me os dedos.
O teu sopro percorreu a minha mente, a minha inocência, os teus lábios ousaram tocar os meus sem promessas.
Os teus braços envolveram-me num manto de dor, de solidão, de medo. Acorrentas-me ao passado, a um passado que nada mais é do que um erro, uma dança de corpos selvagens.
Na minha fraqueza, no dia em que a minha mente voava pela terra do nunca, e em que a minha consciência embriagada se encontrava, a tua boca procurou a minha (mas sem promessas). E eu apenas podia responder com o meu novelo de lã, que palpitava ansioso, ele queria-o, como estava frágil... e ainda assim consiguiu recusar o mel doce que escorria dos teus lábios.



Os teus olhos anseiam carne, a tua sede enlouquece-me.
Mas eu sou livre, livre do teu pecado, das tuas mãos.

**
"O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta..."

**

"E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!"

segunda-feira, 10 de novembro de 2008


"Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver."

Sophia de Mello Breyner Andresen







As luzes lá fora no mundo escondem-se atrás das cortinas que se fecham. As minhas memórias caiem num estado extasiado. Dúvidas inúteis, sentimentos degrados e remoídos nos gestos que passaram pela minha pele ruborisada. O calor da noite é abrasador, a lua cheia seduz o sol num ritmo doce de loucura.
O tempo passa. O toque passa. Tudo passa sem sentido.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008


O dia acaba. O cansaço dos meus ombros, pesados, fracos, desgastados, morrem pendurados pelos ossos cinzentos. Os movimentos do meu corpo chiam, rangem, dão pequenos sinais do final do dia.
Ouço o bater dos ponteiros, o relógio não pára. Respiro profundamente. As pálpebras caiem sem castigo, hoje tudo perdeu o rumo, todas as oportunidades dispersaram-se em mil pedaços pelos “se”s proferidos.
“Não me voltarei a erger. “
Olho pela janela, o mundo está cheio de brilho.
Desvio o olhar. Retiro-me desse lugar em passos lentos, os meus pés arrastam-se sem vontade. A minha figura insignificante tropeça pela solidão das palavras, pelo desgaste de ser o que não é, de tentar vencer o que não quer ganhar. A fraqueza apodera-se dos meus pensamentos, o meu corpo gela. A temperatura desce. O silencio irrompe os meus ouvidos. As palpitações explodem aceleradas, mas rapidamente perdem o ritmo. E lentamente vai batendo, e lentamente vai parando, devagar, agora apenas se ouvem espaçados gemidos de força. Desisto.
Desisto. consciente que naufraguei na solidão sem saber que ela existia.
O fim aproxima-se sem dor. As minhas pernas rendem-se à terra. Já me vejo ao longe. Cada vez mais distante, o branco preenche o horizonte. A visão torna-se turva. O mundo gira. Gira. Gira…. escuridão.




31-10-2008
Enquanto amanhece,
Enquanto escurece,
o brilho do mundo perde-se nos meus sonhos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A Criação



«No início Ele criou os céus e a terra.
A terra era sem forma, vazia, escura e coberta de água. O
Seu Espírito flutuava sobre a água.
E Ele disse: "Haja Luz", e ela apareceu.»


In A Criação


















Linguagem substancial,

Incêndio de palavras doces…

Claro-escuro

Do fogo cru e nu

Das noites eternas,

Repletas de labaredas

Que consomem sonhos,

Sonhos de nada!

Pequenas palavras

Da mais pura luz

Que nasce no horizonte.

Catarina Mavilde Monteiro